O jovem já não sabia mais para onde ia. Ou, pelo menos, deveria ir. Sentia-se mais do que perdido, tanto em pensamentos como na vida e na sua própria casa.
Ao sentar na beirada da cama desarrumada, pensativou, tombou a cabeça pra trás e riu de si. "Tolo-idiota." - Pensou.
Ele sentia e pressentia a depressão. Uma neblina densa da maldita rastejava, sem pressa alguma, até ele. Queria e estava pouco a pouco tomando conta do indivíduo.
Com um sorriso irônico no rosto, pois sabia que ainda poderia combatê-la, se deitou.
A história se repetia.
Ela já havia passado por isso muitas e outras vezes. Não queria passar por toda aquela pressão de segundas, terceira, quartas, quintas, nonas pessoas forçando-o a sair.
Não.
Afastou-se.
Em um longo e profundo sono sem sonhos, preferiu se afastar.
Um rápido filme passou por sua mente.
Eram lembranças.
O esforço da mãe para que chegasse aos tão esperados, recém-feitos, vinte e seis anos... Sim. Era seu aniversário naquele frio-chuvoso dia lindo e irritante.
Um distante meio-irmão, filho apenas de seu pai com alguma outra mulher qualquer, veio à memória.
Mal lembrava o nome do, na época, guri. Tentavam fazer com que fossem amigos próximos. O que, evidentemente, nunca deu certo.
O homem que agora estava caído - quase delirante - tinha uma expressão de dor. A dor transpareceu numa lágrima que escorregou, rapida e timidamente , até a fronha manchada do travesseiro com cheiro de mofo.
Com certeza era uma lágrima acumulada. Teimoso, deixou que apenas aquela tivesse lhe escapado do vago e desulidido olhar.
Lembrou da sua tão odiosa professora de Inglês do segundo ano... Todo o santo início de ano a tal branquela, cujo o nome ele também não recordava, passava a mesma matéria indiferente no quadro.
Riu ao lembrar que era um péssimo aluno.
A risada sessou no momento em que lembrou das surras que levava de sua mãe por causa de suas odiosas notas.
Orgulhoso, engoliu as outras que estavam por vir. As lágrimas imploravam impiedosamente para sair. Ele não cedeu.
Ia se entregar, mas o ego apenas não permitiu que fosse por completo.
Queria lembrar-se do nome da branquela. Ele não estava nem um pouco satisfeito com a sua falta de memória.
Ficou irritado com tudo aquilo.
Concluiu ser péssimo com nomes.