Tudo girando... Estava tudo girando. Achou que estivesse tonto ou, quem sabe, desmaiando mesmo. Não sabia.
"Quanto mais bela, mais perigosa, não?" - Eu lhe disse. Ele já estava delirante mesmo, não ia levantar e me identificar. E se o fizesse, ninguém acreditaria. Nunca teve alguém por perto daquela imagem distorcida do mundo que possuía. Engraçado a forma de como tudo tão nítido e ao mesmo tempo tão borrado mostrava que estava como sempre estivera... Sozinho.
A vida estava o deixando e não havia nada a ser feito. Ele não tinha mais as forças necessárias para segurá-la nas mãos; havia muito tempo que estava apenas deixado-a passar entre os dedos. Aqueles medos inúteis permitiam escapar tanta coisa e ele sequer se importava. Nunca se importara em viver de verdade... Por que se agarraria a vida logo agora? Inúmeras dores o perseguiam todos os dias, como fardos e feridas que nunca iriam se curar ou fechar. Suas faces mostravam-se cada vez mais impacientes com a monótona dor que sentia dia após dia. Nada se resolvia. Era um político gordo, ignorante e extremamente presunçoso.
Senti que o medo tomava conta do indivíduo. Eram fardos demais pra ele. E aquelas fobias... Elas não o deixavam respirar. Seus pulmões não estavam mais sendo inflados corretamente. O imaginei tentando gritar algo como "Alguém me ajuda!" e até achei graça. Mal sabia ele que suas cordas vocais já haviam sido arrancadas há muito tempo pela traição abafada de sua, 10 anos mais jovem, esposa. O coração estava parando de bater. Sei que sentiu que aquela dor habitual estava voltando, vi isso nos olhos pedintes dele. Minutos agoniantes pra ele - e divertidos pra mim - se passaram. Seus olhos arregalados transmitiam uma mensagem de pavor: "Para onde vou?!" - imaginei.
Quando se desiste de lutar, logo, tudo fica dormente.
Ele não desejava juntar forças e fazer com que um voltasse a bater e, outro, inflar.
A "festa" já estava encerrada.