Saudade daquelas amizades que, agora, aparentam estarem esquecidas. Saudade de algumas horas falando bobagem, outras nem tanto. De dormir na casa de algumas amigas e de fugir com outras. De acampar no meio do quarto com uma barraca iglu, de ter histórias engraçadas e que são totalmente sem sentido fora de contexto...
Sinto saudade de ser criança, saudade da inocência, de ter medo de escrever a caneta, errar e a professora xingar. Falta daquela não-responsabilidade sem nenhuma punição.
Saudade de brincar de esconde-esconde onde a seleção se baseava na brincadeira "... senão vai fechar o abacaxi".
Daquela época onde falar palavrão era feio, andar na rua depois das 22h era quase que extremamente proibido e que brincar de barbie não era vergonha aos 10 anos. Andar de bicicleta e brincar de polícia e ladrão sem ser chamada de criançona...
Saudades de ouvir uma história antes de dormir! De descer a lomba da praça, feita de grama, com papelões mutantes. De acordar e ver desenhos animados, sentada na sala com a companhia do meu super-cobertor, de manhã cedinho; onde os desenhos violentos eram mal vistos e quase nem vistos.
Saudade do tempo que o mouse do computador tinha uma bolinha emborrachada no lugar da luz vermelha.
De bater e apostar os tazos que vinham nos salgadinhos. Do Babaloo que pintava a língua e, conforme a cor, respondia a tua pergunta. E, por falar em Babaloo... Sinto saudade daquela brincadeira onde dizíamos "babaloo da Califórnia, Califórnia do Brasil".
Sinto saudade da propaganda consideravelmente irritante do Biotônico Fontoura e de quando o Merthiolate ardia. De ser irritante com os meninos que eu gostava e com o professor de Geografia; nunca gostei dessa metéria mesmo! Fazer barraquinhas de lençól no meio do quarto e ficar com dó de desmanchar, era divertido.
Saudade de comer aquele arroz com feijão e azeite de oliva, do qual eu sempre achei que apenas a minha vó sabia as medidas corretas de cada ingrediente. Da ambrosia extremamente doce e morna que minha mãe fazia. Dos fios de ovos super-amarelos que aquela tia avó mesmo produzia.
Saudade da ginástica olímpica. Do ballet, do movimento escoteiro, do vôlei, do jazz rítmico, do handball, da capoeira... Também tenho saudade daquele perfume adocicado misturado com mofo de velho que a minha bisavó usava.
O relógio não pára. O relógio não volta. Mas o que cultivamos na memória se resume a isso: saudades.
Saudades que apertam o peito... Cada um ao seu jeito.